Tenho 12 anos e 8 meses e odeio ter 12 anos e 8 meses! Dizem que quando se tem essa idade a gente é ninguém, mas eu discordo. Acho que somos alguém, sim. Será que ninguém enxerga isso?
Fui falar com o Wilson, o nosso professor de ciências, sobre as minhas preocupações, mas não devia ter falado coisa alguma com aquele xarope. Vai vendo, ó: ele disse que quando estamos nesta faixa etária, nos assemelhamos a uma ameba. Ora, ameba é um substantivo feminino que não apresenta um formato definido. Pra complicar mais ainda as coisas, ele me comparou a um protozoário. Protozoário, disse ele, é uma espécie de animal unicelular e que as partes que não são aproveitadas devem ser eliminadas. (Que conversa?) Credo! O fenômeno da ciência ainda me disse que não havia motivos pra pânico: “Você, garoto, possui uma grande capacidade de adaptação, podendo viver muito bem na água, na terra e no musgo úmido”.
Desde aquele dia o apelidamos, às escondidas, é claro, de Ameba. Ele me flagrou cochichando com a Maria Mitiko. “Hã, hã, Ameba… Muito bem…” Pensei que ia tomar uma esfrega, mas nada. Acho que ele nem ligou.
Outra vez quando um menino enfiou a caneta na boca, dei a mó bandeira. Pra quê? O Ameba e toda a torcida do Corinthians ouviram o que eu disse: “Essa caneta tem macróbios, moleque!” Por causa dessa mancada, o Ameba vive me zoando: “Macróbios, você poder vir à lousa. Macróbios isso. Macróbios aquilo”. Os apelidos são assim mesmo, a gente nunca escolhe um; eles nascem do nada e grudam na gente feito piche.
*texto publicado no meu livro Confissões de um Otário
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