Pequena entrevista inventada

Minha universidade?
Minha casa; minha família; meus amigos; meus livros; meus grilos; meu ócio. O meu ócio. Esse ofício de coser e cortar palavras

Minha vontade?
Viver um dia por vez; não perder a vez quando chegar a minha hora


O que me fascina?

A contramão. Às vezes sou ninguém por opção, mas acho que ser ninguém é uma grande mentira. Quando muito quero ar e sigo na contramão por achar que essa é a minha mão mais certa. Certamente me acho e é comigo que me sinto bem

O que foi?
Outro dia, quase fiquei doidinho da silva, mas não de chegar a dar nó em pingo d’água. Endoideci doutro jeito, modo que até prece eu fiz. Senti uma coragem inexplicável e pedi ao Paizinho pra que Ele não mais implicasse comigo e me deixasse aluar em paz


O que eu não esqueço?

O olhar das primeiras descobertas. Mãe dizia que eu era inteligente. Nunca fui, mas gostava de ouvi-la dizendo isso toda orgulhosa. Só não entendia uma coisa: mãe conversava com a Maria umas estranhezas. Dizia que ainda não tinha descido. Aquilo botava o meu cérebro em embulição, enquanto eu fingia que fazia lição. Mas agora eu entendo tudinho

Do que eu não gosto?
Essa última pergunta é muito pessoal, não quero contaminar ninguém com as minhas impressões. O que penso das coisas tem o meu tempero e temperatura. Às vezes carrego muito nas tintas e acabo desgostando as pessoas. Então, rapaz, se eu não for capaz de coser boas palavras é melhor ficar de boca fechada, pelo menos assim não entra mosquito e nem sai impropérios. Impropérios? Dê-me licença, esse termo vou cortar. Não falei que o meu ofício é coser e cortar palavras? Pois é, cortei.

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