Com os pés nos pardais

Foto: Pedro Pires

Sabe aquele dia, aquela semana em que você não está com vontade de fazer nada? Isso estava acontecendo comigo constamente. Chegava enfrente ao computador e não conseguia escrever uma linha sequer.

Que coisa mais chata!

Parece que o tempo todo somos regulados por alguém ou por nós mesmos. São os seus pais, os seus professores, a sociedade… Mas a maior carrasca é a nossa própria consciência. Ô sujeita que gosta de infernizar a gente, hein!

Tudo ela proíbe. Você não pode tirar nem um cochilinho de uns dez minutos depois do almoço, porque isso só pode ser coisa de vagabundo. Ah, tenha dó!

Por causa disso, resolvi me dar férias dessa chatice toda. Chamei os meus pensamentos e disse assim pros carinhas:
– Ô meu, vamos vadiar!

Neste momento, um pensamento gordão e muito do carrancudo chiou:
– Veja bem, você tem obrigações a cumprir. O momento não é apropriado para vadiagem!

Sabe o que fiz?

Deixei o gordão falando sozinho, peguei aqueles pensamentos os quais achei que ainda tinham alguma salvação e levei-os comigo.

Vadiamos pelas tardes, colocamos os pés nos pardais, desabotoamos suspiros profundos, colecionamos desapegos e assim – desde aquele dia – fazemos isso todos os dias.

A nossa caminhada só termina quando a noite cochicha estrelas no céu. É um sinal de que os pensamentos já podem dormir desanuviados.

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