Um céu de antimônio. Terça-feira. Sempre achou este o dia mais pesado da semana. Pelo menos não estava cinzento. Ventava um vento bom. Vento gelado. Anúncio de que o outono se aproxima – de mala e cuia. Mala e cuia, que expressão! “Dia bom”, pensava. Dia bom. Não gostava de pessoas que se passavam por boas. “Pessoas boas não existem”, dizia “a gente deve se vigiar pra não ser ruim com os outros nem com nós mesmos”. Achava o ser humano ruim por natureza. Mas só dizia tal coisa quando alguém insistia muito. Abominava hipérboles. Odiava mesmo, todo tipo de exagero. Por isso não morria de rir, não morria de medo… Essas coisas. Nada lhe era mega: nem a solidão, nem a dor, nem porra nenhuma. Vivia sem sobressaltos. Não suportava ser surpreendido; não agia sem pensar pra não se agastar depois. Mas quando a vida pesava e isso lhe ocorria impreterivelmente, às terças-feiras, recolhia de uma fresta do espírito os bons pensamentos, os quais adejavam à sua espera. E lá se ia. Outono outra vez, sem alarde.
…