Sempre cruzavam-se naquelas areias. Pra puxar assunto ele perguntou se ela gostava de conchas. Conchas? Sei lá, acho que gosto. Gosto sim. Então vamos tomar uma água de coco? Que conversa! Nada a ver. Mesmo assim aceitou o convite dele que, discretamente, dispensou o chiclete que mascava há séculos. É preciso um pouco de compostura numa hora dessas. Podemos dar uma volta pela praia? Claro que sim. O sol pintava-se de laranja. Um deleite. É como se o mar os fitasse. Sentaram-se feito índios sorvendo o líquido docinho do coco gelado. O quê? Carninha? Adoro! Escuta… O quê? Meu coração. Então, a menina grudou o ouvido num peito agitado. Ele sentiu o frescor da tessitura suave da pele dourada da jovem fêmea. Tocou-lhe os cabelos, a nuca. Arrepios. Você quer uma concha? Sutileza. Quero sim, obrigada. Deliraram: ouviram o mar dentro da concha. Tá escutando? Tô sim. Riram das bobices. Conchas são criaturas tristes, um falou. Conchas é a vida que deu o fora, o outro disse. A menina correu pras águas salgadas. O que você tá fazendo, gata? O mar não está pra brincadeira, o garoto quis avisar. Vem também! Ela chamou. Não dá. Não posso. Não sei nadar, se justificou envergonhado. Então, ela, primeiro, o achou patético, e, depois engraçado. Foi quando o céu trevou. Muda, a menina trancou-se, ensimesmou-se e, desde então, o menino nunca mais foi apanhar conchas…
…