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Não pretendo reacender aqui aquele falatório ridículo de blogueiros versus jornalistas. Muito menos advogar a causa dos que dizem que a imprensa formal morreu ou daqueles que vomitam baboseiras a respeito do “desejo enrustido” de todo blogueiro em relação a ser um jornalista. Isso, além de uma infantilidade enorme é uma perda de tempo.
Pessoalmente não acredito em antagonismos e acho uma enorme estupidez e uma demonstração de mentalidade tacanha alguns posicionamentos de jornalistas em relação ao blogs e vice-versa.
Num país onde as principais fontes de informação ao povo são grandemente comprometidas com os patrocínios de entidades estatais para sobreviver, jornalistas de valor e blogueiros poderiam (e deveriam) unir forças por uma liberdade de expressão mais acirrada e combativa e não tratarem um ao outro como antagonistas e vorazes inimigos. Mais uma vez não quero generalizar. Mas sabemos muito bem que, de um ou de outro lado, essas mentalidades “medievais” existem.
Hoje tive um exemplo claro e muito explícito de como repórteres e âncoras de telejornais são obrigados a mascarar a informação, idiotizar a audiência e até mesmo desviar a atenção de fatos importantes que acontecem bem embaixo dos narizes de todos nós. Não que já não soubesse disso; afinal de contas, quem nunca ouviu falar que a Globo a Veja e outros grandes órgãos de imprensa “puxam a sardinha” para o lado dos políticos ou das correntes ideológicas que apóiam? Verdade ou não, o fato é que uma demonstração tão explícita quanto a que assisti, na casa de um amigo, nunca tinha presenciado.
Visitando um amigo próximo, estava em sua sala e iniciou-se o Jornal Nacional na Globo. Tudo maravilhoso e lindo, um globo terrestre girava atrás dos apresentadores e as notícias eram praticamente vomitadas sem qualquer análise mais profunda. O que, aliás, é a tônica desse jornal. Mas, de repente, uma matéria interessante (e em continuação a do dia anterior) mostrava que o prefeito de uma cidade do interior pediu a um empreiteiro que usasse material de péssima qualidade na obra da creche municipal como forma de “economizar uns cobres”. Preocupação com os cofres públicos? Economia para investir em outros pontos onde obras eram necessárias na cidade? Nada disso. O prefeito queria “abocanhar a diferença” em forma de propina.
O empreiteiro até teve o cuidado de filmar o prefeito embolsando um “adiantamento” do jabá. Tudo ali; “preto no branco” para todo mundo ver. A imagem é cortada rapidamente e retorna para os apresentadores do jornal. Num átimo de segundo pensei: “Vão debater e apresentar depoimentos do Ministério Público ou de autoridades ligadas à investigação desse tipo de crime”. Nem acabei de pensar nisso e um dos âncoras diz para o outro: “Vamos falar de futebol?”
E a tela da Tv se enche com jogos do campeonato daqui e do exterior por muito mais tempo do que a notícia anterior; encerrando o jornal e abrindo o horário da novela.
Confesso que fiquei petrificado pela forma explícita e descarada com que um assunto tão importante foi jogado para baixo do tapete quase que imediatamente após ter sido mencionado e abafado, na mente dos telespectadores, pelas costumeiras manobras futebolísticas de sempre.
Aí está uma máquina eficiente e uma fórmula comprovada e azeitada de fazer do país e do povo o que eles são hoje. E, o pior de tudo; somos nós mesmos que pagamos por tudo isso através dos patrocínios pagos pelo Tesouro Nacional e pelos empréstimos de “pai para filho” do BNDES.
É lógico que esse efeito é conhecido e essa prática é antiga. Mas sempre havia uma discrição e um disfarce das reais intenções e a “coisa” era apresentada de forma sutil e delicada. Contudo, ver assim “de pronto” e na “cara dura” me deixou chocado.
Mesmo sabendo que os jornalistas das grandes emissoras são praticamente obrigados a submeterem as suas pautas e até o que vão dizer ao alinhamento editorial das empresas de comunicação; acho triste essa subserviência e pífia a arrogância com a qual, alguns jornalistas mais atrasados, tratam os “sem diploma” ou os blogueiros. Chegou-se até ao absurdo de afirmar que o diploma de jornalismo era “a garantia da ética profissional”. São exemplos assim que mostram o tipo de ética que alguns setores querem conservar.
Mas, ontem vendo aquele circo, me senti como uma virgem andando por um bacanal daqueles “dos bons”.
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