Quando Lula diz uma coisa e seus comandados fazem outra e Chávez enterra a democracia na Venezuela, precisamos lembrar que, talvez, o tempo seja circular.
Em uma época de apogeu, a conjetura de que a existência do homem é uma quantidade constante, invariável, pode entristecer ou irritar; em tempos de decadência (como estes), é a promessa de que nenhuma afronta, nenhuma calamidade, nenhum ditador nos poderá empobrecer.
Na prática, o que observo é que as pessoas gostam de ser comandadas e que detestam fazer escolhas (pra quê mudar de presidente se tá tudo bem?). Isso não muda; as pessoas só se revoltam quando o comando é muito feroz. Mesmo assim, acham que colocar alguém mais brando indefinidamente no poder é solução. Talvez por isso a história pareça se repetir. A essência humana é essa, os erros são os mesmos – os resultados não poderiam ser diferentes.
Eu não acreditava no tempo circular e no eterno retorno, mas às vezes precisamos crer em alguma coisa. E a idéia de que nenhum ditador nos pode empobrecer é ótima.
BORGES, Jorge Luís. O Tempo Circular. In: ______. História da Eternidade. Rio de Janeiro: Globo, c1953. p. 74..