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Frequentemente me debato aqui com leitores que questionam minha classificação de Hugo Chávez como ditador. Afinal de contas, ele foi eleito e é constantemente apoiado por seu povo. Logo, é correto pressupor que políticos assim são democratas.
Mas; e casos como o do Irã, Iraque (nos tempos de Saddam Hussein) e alguns outros países claramente ditatoriais e que promovem eleições? (apenas para citar exemplos contemporâneos)
O simples fato de ser eleito não dá a ninguém o título de democrata-mor. As eleições iranianas são verdadeiramente algo para “inglês ver”. Afinal de contas, uma junta de sacerdotes é quem escolhe as pessoas “capazes” de se lançarem candidatos. Reformistas ou elementos “não alinhados” com seu pensamento não podem ser nem “síndicos de prédio” (sic), são colocados na disputa apenas como figuras meramente decorativas e como uma forma de garantir a “democracia” do pleito.
Portanto, essas eleições, chegam ao seu término praticamente definidas. Normalmente os candidatos mais chegados ao pensamento dos Aiatolás são os escolhidos e devem, ao longo de todo o seu mandato, obedecerem de forma cega aos desejos e pensamentos emanados da assembléia dos sacerdotes.
A realização de eleições serve apenas como uma satisfação ao mundo exterior ou a uma classe mais instruída do povo. Num claro jogo de cartas marcadas, apenas os candidatos “do sistema” chegam aos postos importantes ou conseguem se eleger em maioria.
Pode mesmo nem ter havido uma fraude na eleição iraniana. Afinal de contas, o país tem vastas populações mergulhadas na ignorância e na pobreza; vivendo ainda numa linha de tempo toda particular e atrasada. O que, para um dos países que foi o berço de toda a civilização humana e um centro histórico das artes, ciências e de inúmeros avanços culturais e científicos; é algo triste e deprimente. Basta saber que, enquanto a Europa ainda assistia a seus habitantes jogando fezes e urina pelas janelas das casas, os países dessa região já dispunham de iluminação pública nas ruas e redes de esgoto (além de já terem conhecimentos avançados de astronomia, física, matemática, etc…).
Contudo, alguns indícios que transpareceram durante e após a divulgação dos resultados das eleições iranianas nos fazem pensar: Em primeiro lugar, há o estranho comunicado da autoridade eleitoral máxima iraniana (o equivalente ao nosso TSE) a Mir Hossein Mousavi, afirmando que ele havia ganho as eleições “de lavada”. Depois; o comparecimento recorde de votantes de maioria reformista que estavam afastados dos pleitos iranianos e a “derrota” do candidato reformista em redutos de sua própria etnia (e por margens absurdas); quando todas as pesquisas lhe conferiam mais de 70% dos votos nessas cidades que, tradicionalmente, não votam em elementos “de fora”. Houve também uma estranha celeridade nas apurações: a eleição anterior levou dias para decidir quem era o vencedor; nesta, o resultado veio em questão de horas (o que é duplamente estranho porque o voto e a contagem são manuais).
Além disso, os próprios distúrbios ocorridos nas grandes cidades do país (e que não são vistos faz tempo); mostram que pode mesmo ter havido algo errado nas eleições iranianas. Mas, tenha havido irregularidade ou não; jamais saberemos ao certo. Basta analisar como os Aiatolás estão procedendo com a questão: Ao invés de mostrarem, de uma vez por todas, a força e o apoio do povo aos seus pensamentos e a vontade popular de manter a “guerra as infiéis ocidentais” a todo vapor; os Aiatolás optaram por lançar uma teia de sombras sobre todo mundo.
Ao impedir o acesso a Internet, controlar as ligações telefônicas, o envio de notícias para fora do país (antes de serem aprovadas pela censura), calar até as redes de TV árabes e “baixar o sarrafo” em todo mundo que ouse manifestar-se contra o resultado da eleição; os Aiatolás mostram e ratificam o que sempre desejaram esconder: a insatisfação popular com os rumos da política iraniana e a vontade crescente de uma população mais jovem e esclarecida de pensar livremente e agir de acordo com seus próprios julgamentos e vontades. Além disso, mostram que são mesmo mais um governo ditatorial que só se mantém graças ao uso da força e ao controle ferrenho do cidadão.
Controlando corações e mentes, ao invés de conquistá-los, os Aiatolás desejam manter uma situação que acabará levando o país para uma revolta violenta (a exemplo do que aconteceu na época do Xá) ou para uma guerra definitiva contra seus “inimigos” israelenses e ocidentais.
A vontade do povo iraniano, que clama por mudanças, vem do esclarecimento de uma população jovem e de boa instrução. Normalmente, essa é uma força que sempre se opõe a dogmas religiosos inexplicáveis e a vontade ferrenha dos conservadores de manter tudo como está. Sejam eles iranianos ou de qualquer outra nacionalidade.
E você leitor; o que pensa disso?
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