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Tudo o que diz respeito a China deve sempre ser tratado como colosso. Afinal de contas, o maior mercado consumidor do planeta é formado por uma massa que melhorou muito de vida financeiramente e que deseja consumir o máximo possível, no menor espaço de tempo. Muito ao contrário do que os saudosistas do comunismo preferem admitir, na China de hoje poucas lembranças podem remeter ao comunismo ferrenho e a política do “Traje Mao” e da “Igualdade para Todos”. Uma das poucas reminiscências são o autoritarismo e o controle ferrenho sobre corações e mentes de seus cidadãos (pelo menos é o que tentam).
Afinal, se assim não fosse, o regime não resistiria. A opção pela mudança nos paradigmas financeiros e o abandono das ideias atrasadas de manter a população ignorante e presa ao campo, como forma de conseguir uma doutrinação permanente e obediência total pela dependência, causaram na China um efeito transformador.
E esse efeito, como era de se esperar, já se manifesta na nova geração de jovens chineses que não conheceram muito a fundo as privações absolutas do passado e cresceram durante os anos em que a China “cuspiu no prato do comunismo” e resolveu tornar-se um país “capital-comunista” (sic).
A maior prova disso é que às vésperas do aniversário de vinte anos do Massacre da Praça da Paz Celestial, em que manifestantes pediam uma China mais livre e aberta ao mundo e foram reprimidos violentamente pelo governo chinês; o fato parece não ter a menor importância simbólica para o jovem chinês médio de hoje. Segundo entrevistas feitas pela BBC com jovens universitários chineses, eles declararam que preferem “cuidar de suas próprias vidas” a “mudar a China”. A opção por enriquecer, fazer sucesso profissional e aproveitar o que o dinheiro puder comprar é a tônica da maioria dos discursos proferidos pelos jovens de hoje.
Você pode até achar meio estranho; mas eles acham que o ato foi “um erro”. Os universitários chineses pensam que “devem preocupar-se mais com suas próprias vidas” e que “é perigoso lidar com questões políticas”.
Essas declarações podem ser muito bem comparadas (guardadas as devidas proporções) com nossa própria situação política. Uma população submetida a uma doutrinação violenta e a anos de domínio ideológico pesado tenderá a abster-se das questões políticas de seu próprio país. Taxar a manifestação dos estudantes, na Praça da Paz Celestial, como um erro é algo estúpido porque lança o movimento, que é sem dúvida um marco nas mudanças ocorridas na China, no desprezo e na vala comum da insignificância.
Se o regime chinês encarasse mesmo o movimento como um erro ou algo inócuo não manteria, até os dias de hoje, cerca de 200 manifestantes presos em suas cadeias e campos de trabalho (aqui). Além disso, não se empenharia em impedir, por todos os meios, que o povo se manifestasse pela Internet ou por qualquer forma de comunicação seu pensamento em relação aquele dia de 1989 .
Os jovens universitários chineses parecem desprezar o ecos do passado que permitiram que eles, hoje, se encantassem pelo brilho hipnótico do ouro e pelas riquezas que as oportunidades construídas, sobre os cadáveres de milhares de pessoas que deram partida nas engrenagens responsáveis por trazer a prosperidade que a China experimenta atualmente, com seus sonhos e seu próprio sangue.
Eles desejam obter o sucesso financeiro e profissional para, talvez em dez ou vinte anos, patrocinarem mudanças em seu país. Mas, então, já não serão jovens; não serão sonhadores e, talvez, já estarão contaminados pelo duro e frio espírito do conformismo ou deslumbrados demais com a própria riqueza (aqui).
E você leitor; que pensa disso?
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