Quando éramos crianças, no auge do regime militar, escutávamos sempre a frase otimista: “O Brasil é o país do futuro”. Muita gente pensava que, chegando ao ano 2000, veríamos carros voadores e todo mundo usaria roupas metalizadas. Pode parecer uma cafonice, mas era verdade. Basta assistir algum filme de ficção científica do início dos anos 60 e 70.
A aposta principal era a de que seríamos “o celeiro do mundo”; a mola impulsionadora que alimentaria e salvaria o mundo da escassez de alimentos e de recursos naturais. Nosso povo, inventivo e criativo, contribuiria com descobertas mirabolantes e bombásticas para o engrandecimento da humanidade.
Pois é, o futuro do passado chegou. E, com ele a dura realidade de quem acorda de um sonho e sente aquele gosto de “cabo de guarda-chuva” na boca. Depois de todos aqueles planos e sonhos e a repetição da famosa frase sobre sermos o país do futuro a exaustão (talvez porque quisessem que ela virasse verdade); as notícias que vemos são:
“Febre amarela faz mais uma vítima”. “Febre tifóide reaparece no norte”. “Policiais militares saqueiam carga de cerveja usando viaturas oficiais”. “Suplente do senador e atual ministro é envolvido com sonegação fiscal e lavagem de dinheiro”. E por aí vai.
Para cada passo adiante que damos; como a redução da mortalidade infantil e a melhoria de condições de vida para os mais pobres, existe um revés de atraso que nos empurra sempre para alguns séculos no passado. É inacreditável como doenças extintas, sem muita dificuldade no início do século passado, voltam com força total e dominam nossas cidades sem que se possa fazer nada.
É estranho que organizações criadas para nos protegerem e manterem a sociedade servem hoje como acobertamento para se cometer os mais variados crimes. Da mesma forma que nossos políticos: Afinal, se expulsa; cassam-se mandatos e morrem os velhos caciques. Mas, os que os substituem são sempre tão ou mais corruptos do que seus antecessores. No caso de Edson Lobão; seu próprio filho nem assumiu e já há uma enxurrada de denúncias. Afinal, ele como tantos outros, faz da política uma carreira fácil e de grandes oportunidades para gerações de seus familiares. Pessoas que, muitas vezes, se tivessem que disputar vagas aqui fora, jamais conseguiriam uma boa colocação; tal a pobreza intelectual.
A verdade é que cansa aguardar esse futuro que nunca chega. Cansa esperar a descoberta do “El Dorado”, que parece cada vez mais distante e além do horizonte. O povo segue anestesiado e sem ação. Os que reagem, a minoria, são engolidos e aniquilados pela grande massa inerte; que teima em esperar a chegada de um messias destinado a romper seus grilhões magicamente.
O povo revolta-se e deixa sua indignação transparecer até que comece a próxima novela, o próximo espetáculo ou o próximo escândalo. Assim, dizendo-se pacíficos e ordeiros, seguem suas vidas ansiando para que a morte dê fim aos seus sofrimentos e lamentações vazias. Torce para que o futuro, mais uma vez, deixe sua prole prosperar ou apenas sobreviver. Deixa nas mãos de outros, que nunca virão, o poder de salvá-los das tormentas e da vilania daqueles que os oprimem. Sem saber que esse poder já está em suas mãos há muito tempo. Só que, por medo, teimam em nunca usá-lo. Assim, nosso passado funde-se ao presente e torna-se o futuro; prendendo-nos numa gigantesca roda de atraso, subdesenvolvimento e letargia.
E você; usa seu poder?